Últimos instantes de vida e morte de Santo Antoninho
No dia 19 de dezembro, dos dias antes de sua morte, Antoninho quis realizar pela última vez o seu presépio, a fim de que Jesus Menino o viesse buscar para o Natal do Paraíso. Trabalhava com grande ânimo e paciência, como se fora dotado da mais robusta saúde, ele, cujo organismo já se desfazia, golpeado por uma moléstia que, indiferente aos recursos médicos, lhe fora tão cruel. Sua mãe vendo-o assim e não se conformando com aquela suprema dedicação, levou-o para a cama, a fim de que repousasse um pouco.
Em obediência ao desejo materno, deitou-se para jamais se erguer. Seus pensamentos, porém, numa elevação edificante, procuravam insistentemente a direção do céu e, por isso, seus lábios não acessavam, numa contínua manifestação de amor, ofertando a Deus as suas derradeiras preces.
Raiava a aurora no dia 20 de dezembro, véspera da sua morte corporal. Pela manhã, a carinhosa superior a da Santa Casa de Misericórdia, acompanhada de outras religiosas, sabendo que Antoninho passara extremamente mal, foram visitá -lo. Ele, assim que as viu, foi tomado de intensa alegria!
A superior A aproximando-se do leito, segredou-lhe: "Antoninho, você quer receber hoje a Jesus e seus Santos Sacramentos?"
" É esse o meu maior desejo", respondeu-lhe Antoninho.
Solicitada a presença do franciscano Frei Ângelo de Rezende, que não se fez esperar, armaram um altarzinho; trouxeram lindas flores! Ele mesmo, da cama, dirigia a ornamentação, pois queria que, ao entrar Jesus, tudo estivesse adornado com o mais requintado gosto. Apenas entrará o sacerdote, disse: "Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!"
"Para sempre seja louvado", respondeu o franciscano que, em seguida, administrou-lhe o santo viático e a extrema unção, dando-lhe, por fim, a bênção pontifícia.
Antoninho, de mãos postas junto ao peito, olhos fechados, passou doces momentos em conversa com Jesus!
Sua ação de graças e intimidade com Jesus, que muito se prolongará, fez o Frei Ângelo pensar que a alma de Antoninho já tivesse se elevado ao Céu.
O sacerdote para ter certeza, tocou-lhe levemente no ombro. Ele, abrindo então os olhos, fitou-o, e disse: "Estou rendendo graças a Deus!"
E continuou rezando...
Depois exclamou: "Jesus, muito vos amo! Fazei de mim o que vos aprouver! Estou pronto!"
Os assistentes, tomados de profunda comoção, puseram-se a chorar!
Antoninho chamando sua mãe, pediu-lhe que providenciasse um automóvel para reconduzir Frei Ângelo, e que não o deixasse sair sem que primeiro tomasse uma xícara de café bem gostoso
Ao se retirar o frei, Antoninho solicitou -lhe que lançasse sua bênção a todos os presentes. Não se esqueceu também de recomendar que matassem com uma fita branca o ramo destinado a aspergir a água. Em estado de perfeita lucidez, distribuía a todos o seu angélico sorriso.
Em determinado momento, pediu um pouco de água e depois disse: "Que linda estrada... atarefada de flores... como são belas!... Quantos anjos! Olha, minha mãe: alguns tocam... outros sorriem!... Convidam-me para acompanhá -los... Que Belo cortejo!... Eu vou, mamãe... Vou... sim... Vejo um clarão!... Um vulto se aproxima!... Olha, mamãe... É meu vovôzinho.. O pai da senhora!..." Antoninho não chegara a conhecer o avô mas, pelos sinais que então dava aos presentes, todos entenderam que ele não estava enganado. O menino entretem-se em conversa com ele; depois, sorridente, termina: "Sim... Eu direi a ela!... Como está lindo!..."
Perguntado sobre o que tinha visto e dito, explicou: "Ele manda dizer à vovó uma coisa a respeito de um negócio que eu depois direi a ela. Mandem chamar a vovó."
No dia seguinte, assim que viu a sua querida avozinha, começou: "O vovô quando moço, caiu de um caminhão quando trabalhava e quebrou uma costela. (Esse acontecimento somente sua avó o sabia). Ele disse me que não me impressionadas com minha magreza, porque os fracos neste mundo, são quase sempre escolhidos para confundirem os fortes." Terminou esclarecendo à avó como deveria agir para solucionar seus negócios que a deixavam muito nervosa e preocupada. (Eram assuntos reservados, que somente ela os sabia).
A pobre senhora, não se contendo, afastou-se, pondo-se a chorar detidamente.
Antoninho ia perdendo cada vez mais as forças. Chamou seu pai e, vendo-o acabrunhado, disse-lhe: "Não quero que chore... Vá barbear-se... O pobre homem animando-se, foi satisfazer aquele desejo de seu querido filhinho, após o que voltou para junto dele.
Antoninho vendo-o retornar, exclamou muito contente: "Agora sim!"
No quarto sobre a escrivaninha estava a imagem de Santo Antônio.
Antoninho pediu a uma parente que fosse comprar dois castiçais, sendo satisfeito nesse seu desejo. Vendo os objetos, não se agradou dos mesmos. Trocados que foram por outros mais valiosos, Antoninho exclamou; "Agora sim! Santo Antônio merecia coisa melhor!" Pedindo que acendessem duas velas e as pusessem como homenagem ao seu santo, explicou: "Antes que as velas se consumam, eu estarei no Céu!"
Dito isso, entrou em agonia... lenta... dolorosa... De vez em quando dizia: "Estou cansado... Preciso repousar..."
Seus olhos já não viam, mas não se desprendiam dos entes queridos que iriam ficar na mais cruel desolação. Deixou então que realizassem pela face, suas últimas e sentidas lágrimas.
Antoninho erguendo a face num derradeiro esforço, a todos abrangeu num amplo sorriso... Depois... um ligeiro tremor de lábios, sua última expressão de vida!
Estava morto!
Nesse instante, envolvera-o um halo de significante e surpreendente luz, disseram os que mais próximos dele se achavam.
Eram 23 horas e 30 minutos.