Amigo do Santo Padre
Antoninho tinha uma devoção
particular pelo sumo Pontífice. Era de se estranhar que uma criança pudesse
compreender a sublime e alcançadora significação sintetizada no solene : UBI
PETRUS IBI ECCLESIA !
Ao Papa, dedicava ele também
um grande afeto que se traduzia sempre numa alegria espontânea, toda vez que
ouvia a prolação do seu nome. Ao se referirem ao atual Pontífice, Pio XI,
gloriosamente reinante, Antoninho que transfigurava. Lia-se-lhe no olhar
qualquer coisa que demonstrava seu grande interesse e depois num sorriso
próprio das almas eleitas, repetia com unção: o Papa! Sabia ele ser o Papa o
fundamento de um edifício moral: a Igreja; o Pastor que apascenta a Igreja do
Senhor; o Piloto in_*****bido de dirigir a Barca de S. Pedro no oceano
proceloso da vida! É o nosso Pai, dizia! Entusiasmava-se em suas práticas às
crianças, que comumente reunia em sua casa para lhes ensinar o catecismo.
Discorria sobre a igreja de Cristo e seu Pastor, o Papa! Repetia com ênfase ao
seu auditório: "E JESUS falou a S. Pedro e a ele só : Eu te darei as
chaves do reino dos céus e tudo quanto ligares na terra, será ligado nos céus e
tudo quanto desligares na terra, será desligado nos céus: Assim a Igreja com o
Papa nos ensinam a verdade que devemos professar".
O Papa é guiado e assistido
pelo Divino Espírito Santo! E o nosso pregador arrebatava-se em frases
concisas, repassadas de ternura, revelando-se um amigo sincero e leal,
transformando-se num admirador do Santo Padre, pelos sentimentos filiais que a
miúde externava.
Certa vez manifestara-se sobre
a questão romana, solucionada definitivamente a 11 de fevereiro de 1929! Havia
já 58 anos que o chefe da Cristandade se condenara voluntariamente prisioneiro
no Vaticano, como protesto ao esbulho de que fora vítima o Pontificado Romano.
Até então, nenhuma voz se levantara em favor da Sé Apostólica, humilhada pelas
forças garibaldinas. O ambiente social e político e o cuidado dos Pontífices
Romanos em salvaguardar o secular prestígio da Igreja faziam prever que a
situação não se modificaria tão cedo. Toda a hipótese de se encontrar um MODUS
VIVENDI que viesse preservar o direito da Santa Sé e os interesses da Itália,
era afastada como ilógica e irrealizável! A injustiça levada a efeito pelo
governo italiano que se instalara em Roma a 2 de julho de 1871, não só chamava
aos céus, como era um axioma que transformara a vitória garibaldina numa mancha
indelével.
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Antoninho aos 3 anos
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Mussolini, sentindo pezar
sobre sua pátria essa mácula como sinal de maldição e, levado pelos mais nobres
sentimentos de pundonor racial e de justiça, envidava todos os esforços para
ver resolvida decisivamente a magna pendência. Antoninho, que freqüentava a
Santa Casa de Misericórdia, não só pela amizade que tributava às religiosas da
benemérita. Congregação de São José, como para sujeitar-se a sérios tratamentos
clínicos, ou vira certa vez a Irmã Maria Vicentina que, conversando com sua mãe
sobre o Papa, recordava a sua longa e injusta prisão. Antoninho, que
acompanhava atento toda a conversa, não se contendo, disse a Irmã "Mas
isso não pode continuar assim. A senhora verá que logo o Papa não será mais
prisioneiro. Que não se afligisse, por quanto o Papa seria solto". A
religiosa voltando-se para o menino sorriu ao ver seu entusiasmo e interesse
por uma questão que sua inteligência não poderia ainda alcançar e acrescentou:
"Reze, Antoninho, reze muito, pelo Papa!" Essa passagem deu-se no ano
de 1924, tendo Antoninho 6 anos de idade, e, todavia, não se debatia ainda a
Questão Romana.
A 11 de fevereiro de 1929,
dias depois da estada de Antoninho no hospital de S. José dos Campos, os
jornais publicavam ter sido resolvida, definitivamente, a tão delicada questão,
que desafiara as inteligências dos estadistas mais notáveis. Operara-se o
portento, extasiando o mundo inteiro e enchendo de alegria o coração da
Cristandade. A fórmula encontrada por Mussolini e pelo virtuoso quão sábio
Cardeal Pedro Gasparri, Secretário de Estado do Vaticano, de saudosa memória,
vinha elevar, ainda mais, a Igreja de Deus, no esplendor de sua justa glória,
por esse belo triunfo! Antoninho participou das alegrias da família e embora
não soubesse ler, recortou de um jornal a sensacional notícia, enviando-a à
religiosa para comprovar suas previsões.
Respeitava profundamente os
bispos e sacerdotes. Ao ver um padre alegrava-se e, em seguida, pedia-lhe a
benção, o que fazia com veneração edificante! Conversava com os padres na maior
intimidade atendendo-os em todos os seus conselhos. Os sacerdotes que tiveram a
felicidade de conhecê-lo, guardam ainda no espírito a impressão profunda
daquela criança que já sabia discorrer sobre assuntos religiosos com tanta
proficiência!
Antoninho magoava-se quando
alguém, imprudentemente, procurava ferir a reputação dos sacerdotes.
Defendia-os então, com todo o ardor de sua alma infantil. Certa vez,
queixara-se amargamente à sua mãe, de pessoas sem escrúpulos que visaram, com
palavras desrespeitosas, a reputação de um Vigário. Antoninho, apenas viu o
padre em questão, disse-lhe que em breve seria removido pelo Ordinário e
convidou-o a ir à sua casa. Pela conversa, o pároco compreendeu logo que estava
diante de uma criança invulgar e deixou, com isso, muito comovido, a casa de
Antoninho. Passados alguns dias, realizava-se o prognóstico: o senhor Bispo
Diocesano, removia o dito padre.
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