O Feiticeiro
Morava em São José dos Campos um indivíduo dado às praticas da feitiçaria. Tão conhecido era esse homem, que a população andava sempre alarmada com certos fatos esquisitos que se passavam e atribuídos ao tal sujeito.
Antoninho achou-se uma vez em embaraço. Faltava-lhe o sacristão. Aborrecido pela ausência de seu companheiro, procurou logo um substituto, pois não podia, de forma alguma, se conformar em ficar sem rezar a sua missa. Escolheu, dentre os meninos presentes, o que lhe estava mais perto. Beijando com respeito os paramentos, preparou-se e, após uma reverência piedosa, com o cálix nas mãos, encaminhou-se com gravidade para o seu altar. Todos os assistentes, com verdadeira unção, ajoelharam-se e o nosso “padrezinho” persignou-se.
Mas... o coroinha sentia-se mal... tinha receio...
Tudo estava muito bonito e lhe agradava. Mas... seu pai... se aparecesse, seria um desastre!
O novo sacristão era o filho do feiticeiro.
Seu pai proibira-o de ter relações de amizades com o nosso menino. A mãe de Antoninho, que tudo sabia, prevendo qualquer cena desagradável, pediu ao filho que dispensasse o novo sacristão, pois lembrava-se do que diziam do homem que era mesmo violento. Sem se perturbar, Antoninho disse:
- “A senhora sabe bem que a missa não pode ficar incompleta, por isso preciso terminá-la. Nada receie por parte do homem. Estou na graça de Deus e ele não me poderá fazer mal”.
Antoninho em Repouso
Campos do Jordão
14/06/1929
Apenas Antoninho proferira aquelas palavras, eis que chega com ares sombrios, o pai do improvisado sacristão, mas Antoninho não se perturbou. Manteve-se em atitude respeitosa e grave e assim dominou a situação. O feiticeiro, olhando-o com grande espanto, acalmou-se, ajoelhando-se.
Ao DOMINE NON SUM DIGNUS, acompanhou humildemente o celebrante, batendo no peito.
O lobo fora assim transformado em inofensiva ovelha.
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